Em uma iniciativa diplomática de grande relevância para a economia do Sul do Espírito Santo, o prefeito de Cachoeiro de Itapemirim, Theodorico Ferraço, enviou uma carta oficial ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
No documento, datado desta terça-feira (15), Ferraço faz um apelo veemente pela reconsideração de uma proposta de tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, alertando para as “consequências econômicas devastadoras” que a medida traria ao principal polo de rochas ornamentais do Brasil.
Na correspondência, o prefeito ressalta que Cachoeiro de Itapemirim, conhecido por ser o berço de figuras como Roberto Carlos e Rubem Braga, é também o epicentro da indústria de mármore e granito do país. A cidade abriga cerca de 600 empresas e gera mais de 6.500 empregos diretos no setor.
O mercado norte-americano é o destino de 56,3% das exportações de rochas da região, o que o torna um parceiro comercial indispensável para a sustentabilidade de centenas de negócios e milhares de famílias.
“A imposição de uma tarifa desta magnitude teria consequências econômicas devastadoras e imediatas para nossa cidade”, afirma o prefeito na carta.
Ferraço argumenta que os efeitos negativos não seriam unilaterais. Segundo ele, a taxação resultaria em um aumento expressivo de custos para o setor da construção civil e para os distribuidores nos Estados Unidos, afetando diretamente consumidores e empresas americanas.
O prefeito adverte que a medida arrisca “desestabilizar um mercado que foi construído sobre décadas de confiança e cooperação mútua”, interrompendo uma cadeia de suprimentos consolidada e prejudicando ambos os lados da parceria comercial.
Reconhecendo a soberania de cada nação para definir suas políticas, Ferraço propõe uma abordagem colaborativa em vez de uma medida punitiva.
“Acreditamos firmemente que o diálogo construtivo pode levar a soluções mutuamente benéficas, preservando os laços econômicos e humanos que unem nossos povos”, destaca o documento.
Ao final, o prefeito se coloca à disposição para facilitar uma audiência entre os representantes do governo americano e uma delegação de líderes empresariais de Cachoeiro, a fim de aprofundar a discussão e apresentar pessoalmente as perspectivas do setor. A carta termina com um apelo à liderança de Trump para uma “reavaliação criteriosa” da política, reforçando que a estabilidade de milhares de empregos está em jogo.
Entenda a sobretaxa de Trump
No dia 9 de julho, Trump anunciou, por meio de uma publicação numa rede social, a tarifa 50% sobre produtos brasileiros. No anuncio, o republicano teria apontado relação comercial injusta com o Brasil.
Além disso, o presidente dos EUA criticou o julgamento do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, que corre no Supremo Tribunal Federal (STF), no caso da trama golpista, o que afirmou ser uma “caça às bruxas”.
Leia a carta traduzida
“Excelentíssimo Senhor Presidente,
Escrevo-lhe com o mais profundo respeito, em nome da comunidade e do setor produtivo do Município de Cachoeiro de Itapemirim, Brasil, para expressar nossa grave preocupação com a proposta de aplicação de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Esta medida ameaça uma parceria comercial duradoura e próspera que beneficia ambas as nossas nações.
Cachoeiro de Itapemirim não é apenas o berço do renomado cantor Roberto Carlos e do célebre escritor Rubem Braga, mas também o coração da indústria de rochas ornamentais do Brasil.
Nossas pedreiras e fábricas abrigam aproximadamente 600 empresas dedicadas à extração e ao beneficiamento de mármore e granito, gerando mais de 6.500 empregos diretos e inúmeras oportunidades de emprego indireto.
Os Estados Unidos são um mercado vital para nossa indústria, representando 56,3% de nossas exportações e sendo um dos nossos parceiros comerciais mais importantes. A imposição de uma tarifa desta magnitude teria consequências econômicas devastadoras e imediatas para nossa cidade. Contudo, acreditamos que o impacto negativo não seria unilateral.
A medida resultaria em um aumento significativo nos custos para o setor de construção civil e para os distribuidores americanos, afetando diretamente os consumidores e empresas nos Estados Unidos. A interrupção de uma cadeia de suprimentos tão consolidada arrisca desestabilizar um mercado que foi construído sobre décadas de confiança e cooperação mútua.
Compreendemos a soberania de cada nação em determinar suas políticas comerciais. No entanto, instamos respeitosamente que se considere uma abordagem colaborativa. Acreditamos firmemente que o diálogo construtivo pode levar a soluções mutuamente benéficas, preservando os laços econômicos e humanos que unem nossos povos, em vez de recorrer a medidas que podem prejudicar ambos os lados.
A estabilidade de milhares de empregos e centenas de negócios está em jogo. A incerteza gerada por esta proposta já causa grande apreensão. Confiamos em vossa liderança para uma reavaliação criteriosa desta política, permitindo que a nossa parceria comercial continue a prosperar.
Para aprofundar esta discussão, colocamo-nos à inteira disposição para facilitar uma audiência entre Vossa Excelência, ou seus representantes designados, e uma delegação de nossos líderes empresariais. Seria uma honra apresentar pessoalmente nossas perspectivas.
Agradeço imensamente vossa atenção a este assunto de extrema importância.”