Com a aprovação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, muita gente vai conseguir escapar das garras do Leão. Com um dinheirinho extra no bolso, já pensou em transformar o que era imposto em investimento? Mas a principal dica é começar pagando as dívidas.
Na véspera da Semana do Investidor, evento mundial promovido pela Organização Internacional das Comissões de Valores (IOSCO, na sigla em inglês) que acontece entre os dias 6 e 12 de outubro, especialistas dão dicas para quem está dando os primeiros passos.
O caminho para começar a investir é fazer um planejamento financeiro. Segundo Thamiris Gomes dos Santos, analista de negócios do Sicoob Paulista e pós-graduada em economia e negócios, o primeiro passo é entender a situação financeira, saber quanto você pode reservar e, mais importante, ter clareza sobre seus objetivos.
“No começo da trajetória, é preciso ter autoconhecimento financeiro. Saber quanto se ganha, quanto se gasta e quanto se pode poupar sem comprometer outros compromissos. Defina, então, o seu perfil de investidor. Ferramentas como a Análise do Perfil do Investidor (API) ajudam a identificar se você tem um perfil conservador, moderado ou arrojado, e quais tipos de investimentos são mais adequados para sua situação”, explica Santos.
Após definir o perfil, o próximo passo para quem está começando é montar uma reserva de emergência. Essa reserva deve ser construída com a ideia de ser utilizada em momentos imprevisíveis, como problemas de saúde ou gastos inesperados.
“Uma reserva de emergência não é feita para gerar grandes retornos financeiros, mas para garantir que você tenha recursos quando precisar. O objetivo é ter esse dinheiro disponível em momentos de necessidade. Para isso, é importante escolher produtos financeiros com alta liquidez, ou seja, que possibilitem o resgate rápido, como CDBs de liquidez diária, RDCs e até mesmo a poupança”, orienta a especialista do Sicoob.
Mas qual o valor ideal para essa reserva? Em geral, Santos orienta que a reserva seja equivalente entre 6 e 12 meses de salário.
“O mais importante, porém, é que o montante seja suficiente para cobrir despesas básicas por um período determinado”, diz.
Com a reserva de emergência garantida, é possível começar a diversificar os investimentos. A diversificação tem como objetivo reduzir riscos e aumentar as chances de rentabilidade. De acordo com a especialista do Sicoob, investir em renda fixa, ações, fundos imobiliários e outros ativos ajuda a proteger o investidor da volatilidade do mercado.
“Diversificar é um princípio básico para qualquer investidor. É a forma que encontramos para aumentar a rentabilidade da carteira, mas sem assumir muitos riscos. O segredo está em alinhar os investimentos ao perfil e objetivos de cada um”, reforça Santos.
Para quem deseja ir além e entender o mercado, há cursos gratuitos que abordam desde conceitos básicos para iniciantes a orientações para quem tem conhecimentos mais avançados. Iniciativas como o Se Liga Finanças ON oferecem aprendizado gratuito e online para quem deseja aprender a organizar as finanças, inclusive para aqueles que são microempreendedores individuais.
“Educação financeira é a base de tudo. É importante buscar conteúdo de qualidade para quem quer começar a investir”, finaliza a especialista do Sicoob.
Dívidas
Quitar dívidas e guardar dinheiro são os principais conselhos aos beneficiados pela isenção. “Se você ficou isento, aproveite para revisar o orçamento para saber exatamente quanto entra e sai”, orienta Marcela Truzzi, professora de Ciências Contábeis da Faculdade Anhanguera. “O valor pode parecer modesto, mas equivale a um aumento de salário e pode fazer diferença se usado com disciplina.”
Embora não exista uma “resposta certa universal”, ela aconselha as seguintes prioridades:
Quitar dívidas com juros altos. “Sempre será prioridade porque eles corroem patrimônio e rendimentos futuros.”
Reserva de emergência. “Ter de três a seis meses (ou mais) de despesas guardadas para imprevistos é segurança mínima.”
Investir para médio e longo prazo. “Aplicar o dinheiro que sobra após emergências e dívidas quitadas.”
Melhorar qualidade de vida. “Só depois que os passos anteriores estiverem razoavelmente consolidados, pequenas melhorias podem ser feitas; mas grandes saltos, só com estabilidade.”
Mais dinheiro no bolso da população também deve aquecer a economia. “Obviamente esses valores vão circular, seja no supermercado, na troca do carro ou no investimento em educação”, diz o advogado tributarista Ivson Coelho.
Com juros a 15% ao ano, o crescimento do Brasil vem diminuindo: O produto interno bruto cresceu 1,4% no primeiro semestre do ano contra 0,4% no segundo.
Para Iago Franco, o assistente contábil, a proposta aprovada atende a interesses eleitorais do governo, mas vale a pena. “É claro que existe cálculo político, porque uma medida como essa tem impacto popular. Mas, independente disso, é uma decisão que beneficia 16 milhões de brasileiros que estavam pagando IR”.