A análise de um levantamento realizado pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (USP) mostrou que durante a pandemia da Covid-19 houve um aumento geral no consumo de alimentos ultraprocessados, entre as regiões Norte e Nordeste e entre as pessoas de escolaridade mais baixa.
Os dados fazem parte do NutriNet Brasil, um estudo sobre alimentação e saúde que planeja acompanhar 200 mil pessoas em todo o território brasileiro por 10 anos e teve início em janeiro de 2020.
O resultado inicial teve como base a coleta de dados de 10 mil participantes. A nutricionista e Doutora em Saúde Pública Renata Levy, uma das autoras da pesquisa, explica que o aumento do consumo de ultraprocessados é preocupante porque esses produtos alimentícios estão relacionados à ocorrência de diversas doenças.
“Já temos na literatura muitos artigos publicados associando esses alimentos com a ocorrência de obesidade, diabetes, alguns tipos de câncer, hipertensão, doença cardiovascular, inflamação da mucosa intestinal e asma em crianças. São muitos desfechos de saúde importantes”, enumera, e acrescenta: “Os ultraprocessados são alimentos que incentivam a comer demasiadamente, sem perceber exatamente o que se está consumindo”.
A pesquisadora destaca que no Brasil os produtos in natura ou minimamente processados ainda são mais baratos do que os industrializados. Mas pondera que há uma perspectiva futura de que esses valores se invertam, como já ocorreu em outros países, como o Reino Unido, por exemplo.
Um estudo brasileiro feito por pesquisadores Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens/USP), publicado na revista científica American Journal of Preventive Medicine, mostra que, no Brasil, aproximadamente 57 mil mortes prematuras por ano — isto é, em pessoas de 30 a 69 anos — são atribuíveis ao consumo de alimentos ultraprocessados.
Os pesquisadores concluíram que os alimentos ultraprocessados representavam de 13% a 21% da ingestão total de calorias diárias de adultos brasileiros na faixa etária estudada.
O que são alimentos ultraprocessados?
Alimentos ultraprocessados são aqueles que passaram por inúmeros processos durante sua produção. Normalmente, eles contêm cinco ou mais ingredientes e foram preparados com aditivos alimentares para alterar o seu sabor, textura e cor ou para prolongar o seu prazo de validade.
Segundo o “Guia alimentar para a população brasileira”, do Ministério da Saúde, são alimentos ultraprocessados:
Biscoitos, sorvetes e guloseimas;
Bolos;
Cereais matinais; barras de cereais;
Sopas, macarrão e temperos “instantâneos”;
Salgadinhos “de pacote”;
Refrescos e refrigerantes;
Achocolatados;
Iogurtes e bebidas lácteas adoçadas;
Bebidas energéticas;
Caldos com sabor carne, frango ou de legumes;
Maionese e outros molhos prontos;
Produtos congelados e prontos para consumo (massas, pizzas, hambúrgueres, nuggets, salsichas, etc.);
Pães de forma;
Pães doces e produtos de panificação que possuem substâncias como gordura vegetal hidrogenada, açúcar e outros aditivos químicos.
O documento orienta evitar o consumo deste tipo de alimento. Dentre os motivos, destaca que os ultraprocessados “em geral, são pobres nutricionalmente e ricos em calorias, açúcar, gorduras, sal e aditivos químicos, com sabor realçado e maior prazo de validade”.
Os 32 problemas de saúde associados a ultraprocessados:
Mortalidade por todas as causas
Mortalidade por câncer
Mortalidade por doenças cardiovasculares
Mortalidade por problemas cardíacos
Câncer de mama
Câncer (geral)
Tumores do sistema nervoso central
Leucemia linfocítica crônica
Câncer colorretal
Câncer pancreático
Câncer de próstata
Desfechos adversos relacionados ao sono
Ansiedade
Transtornos mentais comuns
Depressão
Asma
Chiado no peito
Desfechos de doenças cardiovasculares combinados
Morbidade de doenças cardiovasculares
Hipertensão
Hipertriacilgliceridemia
Colesterol HDL baixo
Doença de Crohn
Colite ulcerativa
Obesidade abdominal
Hiperglicemia
Síndrome metabólica
Doença hepática gordurosa não alcoólica
Obesidade
Excesso de peso
Sobrepeso
Diabetes tipo 2