Chineses, árabes e espanhóis estão entre os interessados em participar do leilão da Estrada de Ferro 118 (EF-118), que ligará o Espírito Santo ao Rio de Janeiro.
São ao todo 20 grupos empresariais que terão reunião com membros do governo federal nos próximos dias para obter informações sobre o projeto, que inclui empresas de concessão rodoviária, transporte marítimo e bancos.
Também chamada de Anel Ferroviário do Sudeste, a EF-118 foi tema de audiência pública na sede da Federação das Indústrias do Estado (Findes), nesta quarta-feira (29), em Vitória, com a presença de representantes da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e do Ministério dos Transportes.
Segundo Leonardo Ribeiro, secretário nacional de Transporte Ferroviário, do Ministério dos Transportes, no início de fevereiro será feita uma rodada de conversas com os possíveis investidores no empreendimento, e a atração do mercado é animadora.
“Teremos reuniões com grupos da China, árabes e com europeus, além de investidores e operadores aqui do Brasil. São 20 grupos empresariais, o que demonstra que o projeto chamou a atenção do mercado, especialmente porque o governo federal está participando do projeto”, disse, em conversa com a reportagem na audiência pública.
Entre os grupos, da China, são o gigante CRCC (China Railway Construction Corporation) e da Concremat/CCCC, que reúne Brasil e China.
Também entre as estrangeiras estão Mubadala Capital, dos Emirados Árabes Unidos, duas empresas de origem espanhola, a Acciona e a Sacyr, e a suíça Mediterranean Shipping Company (MSC), conhecida especialmente por transporte marítimo.
Do Brasil, os interessados são Rumo Logística, VLI , Grupo CCR, MRS Logística e Vale. Todas já atuam no setor ferroviário. A relação de brasileiros inclui ainda Arteris, EPR, Prumo e Portonave. Bancos de investimento também estão presentes. São eles: BTG Pactual, XP Asset, Opportunity, Pátria Investimentos e Prisma Capital.
O vice-governador e secretário de Desenvolvimento Ricardo Ferraço destacou que O Estado está mobilizado na atração de investimentos estruturantes que possam melhorar ainda mais a nossa competitividade.
“Vai ser muito importante para a economia de toda a região sul, atraindo investimentos. Estamos apoiando a iniciativa do governo federal, pois isso também vai ser uma ferramenta importante para ajudar na viabilidade do primeiro trecho (até Anchieta)”.
Leilão
A empresa vencedora do leilão será que apresentar a proposta que necessite do menor auxílio do financeiro da União. A concessão inova ao contar com participação do governo federal no financiamento.
Segundo os dados apresentados pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) na audiência pública em Vitória, na parte de engenharia (obras) o valor de recursos a serem investidos é de R$ 4,6 bilhões, e mais R$ 4,4 bilhões com operacional. O governo investirá até R$ 3,28 bilhões.
Marcelo Fonseca, superintendente de Concessão de Infraestrutura da ANTT, destacou que será considerada vencedora aquela empresa que apresentar a melhor proposta econômica, sendo considerada o maior lance.
“Esse lance é em termos do menor valor de auxílio predeterminado no edital, de quase R$ 3,3 bilhões. Oferecer uma redução desse auxílio do poder concedente (União), considerando que ela poderia ter uma equação econômica financeira melhor”, explicou.
Segundo Leonardo Ribeiro, secretário nacional de Transporte Ferroviário, esse modelo inédito garante transparência e segurança para investidores, permitindo uma execução mais ágil. O governo investirá R$ 3,28 bilhões, e a concessão será de 50 anos, garantindo estabilidade financeira.
O leilão está previsto para 2026. Durante a audiência, o público discutiu minutas do edital e contrato, apresentando sugestões para aprimorar o projeto. O ouvidor da ANTT, Robson Crepaldi, reforçou o compromisso com a transparência e o controle social.
Pressão por trens de passageiros
Durante a audiência pública, foi feita uma pressão para que a EF-118 seja futuramente támbém atendida por trens de passageiros, em pedidos de populares presentes e o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias dos Estados do Espirito Santo e Minas Gerais (Sindfer).
O vice-presidente do sindicato Weslei Scooby foi um dos que falou reforçando esse pedido para que as novas concessões das ferrovias autorizadas pelo governo federal ofereçam o serviço de trem de passageiros interligando cidades e estados.
“Seria importante ter o trem de passageiros, que possa levar, por exemplo, passageiros que chegam de Minas Gerais para cidades turísticas como Gauarapari, e vice-versa”, disse.
Weslei Scooby ressaltou que centenas de pessoas morrem todos os anos em acidentes rodoviários envolvendo automóveis de passeio e ônibus, se tivéssemos mais trens de passageiros interligado os estados, hoje várias famílias não estariam destruídas como foi o caso recente em Minas Gerais.
Marcelo Fonseca, superintendente de Concessão de Infraestrutura da ANTT, disse que a demanda será analisada, e citou que há previsão de licenciamento de trens de passageiros, caso existam projetos voltados para este fim, embora não haja nenhuma reserva para viabilizá-lo.
SAIBA MAIS
Empresas interessadas
Brasil: Rumo Logística, VLI, Grupo CCR, MRS Logística, Vale, Arteris, EPR, Prumo, Portonave, BTG Pactual, XP Asset, Opportunity, Pátria Investimentos e Prisma Capital.
China: CRCC (China Railway Construction Corporation) e Concremat/CCCC (que reúne Brasil e China).
Espanha: Acciona e Sacyr.
Emirados Árabes Unidos: Mubadala Capital.
Suíça: Mediterranean Shipping Company (MSC).
Leilão
Poderão participar do leilão, isoladamente ou em forma de consórcio, pessoas jurídicas brasileiras, estrangeiras, entidades de previdência complementar e fundos de investimento.
O leilão ocorrerá no primeiro trimestre de 2026 e a assinatura do contrato no terceiro trimestre do mesmo ano.
A empresa vencedora do leilão será que apresentar a proposta que necessite do menor auxílio do financeiro da União. A concessão inova ao contar com participação do governo federal no financiamento.
Mercadorias
A ferrovia EF-118, com 575 km, atravessará mais de 20 municípios, conectando portos como Vitória e Açu e integrando polos industriais e agrícolas. A expansão beneficiará o agronegócio do Centro-Oeste e a mineração em Minas Gerais.
As principais cargas transportadas incluem Ferro Briquetado a Quente (HBI), ferro-gusa, minério de ferro destinado à exportação e carvão coque.
Detalhes do projeto
O traçado da EF-118 está dividido em três segmentos principais:
Trecho central: um novo percurso de aproximadamente 170 quilômetros ligando São João da Barra (RJ), passando pelo Porto do Açu, até Anchieta.
Trecho sul: Com cerca de 325 quilômetros, conectará São João da Barra a Nova Iguaçu (RJ) e deverá ser executado como investimento adicional, caso acionado pelo Governo Federal. Este trecho, chamado brownfield, prevê a utilização de trechos existentes da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA).
Trecho norte: entre Anchieta e Santa Leopoldina, totalizando 92 quilômetros. Será executado pela Vale e incorporado ao contrato da Estrada de Ferro Vitória a Minas após repactuação.