Na década de 1980, quando São Mateus, no Norte capixaba, tinha 50 mil habitantes, transformamos a cidade na ‘’Capital Cultural do Espírito Santo’’ ao realizarmos, semanalmente, grandes espetáculos, com inúmeros artistas famosos – só vistos no Rio de Janeiro e São Paulo -, que se apresentavam no Teatro Anchieta, convertido no mais atuante do interior do país.
Depois, quando fui secretário de Estado da Cultura do Espírito Santo – governo Vitor Buaiz – restauramos e revitalizamos o casario do Porto de São Mateus, e, em seguida, realizamos a ópera O Guarani – a célebre obra de Antônio Carlos Gomes que encantou a Europa -, com direção da famosa soprano Amarílis de Rebuá, que teve enorme repercussão e foi considerado o evento mais representativo das comemorações dos ‘’500 Anos do Descobrimento do Brasil’’.
Na ocasião, ganhamos dezenas de propagandas, de 30 segundos, veiculadas nacionalmente na TV Globo, nos intervalos do Jornal Nacional e Fantástico, e, ainda, tivemos a narração de Cid Moreira, voz padrão do Jornal Nacional.
Hoje, São Mateus possui três vezes mais habitantes, tem um empresariado composto por uma maioria inculta, com uma ‘’nova classe dirigente’’ tão endinheirada quanto ignorante, se converteu no que há de pior em diversos setores, virou um lixão a céu aberto, mantém elevados índices de criminalidade, a Educação é reprovada, a Saúde pública está na UTI, o histórico casario do Porto foi abandonado, não temos um teatro funcionando e a cultura foi devastada pela incompetência dos gestores locais e do Estado.
Caso o Porto de São Mateus fosse em Salvador, Rio de Janeiro ou Ouro Preto, receberia milhares de turistas, criaria mais emprego e proporcionaria mais bem-estar e lucro financeiro para os seus moradores do que todas as empresas existentes no Município.
Lamentavelmente, poucos gestores enxergaram e ou enxergam o extraordinário potencial turístico do Sítio Histórico Porto de São Mateus, que está em ruínas e vem sendo destruído não apenas pelo descaso municipal, mas, sobretudo, por um governo do Estado incapaz, mentiroso e que se perpetua no poder há duas décadas.
Para piorar, os ministérios públicos Estadual e Federal, além do Conselho Estadual de Cultura – que deveriam ter responsabilidade para com um Sítio Histórico que completará 480 anos como um dos mais antigos núcleos da História do Brasil – fogem de suas responsabilidades constitucionais, se escondem de suas atribuições legais e fazem vistas grossas para o abandono da memória, o descaso com a cultura e o desrespeito para com o legado deixado por nossos antepassados.
Para quem, especialmente, se dedicou à realização de todos esses eventos – comprovados com os cartazes, anexo – é revoltante presenciar a decadência cultural, institucional, social e política de São Mateus – que, no passado, deu quatro governadores para o Espírito Santo – e, principalmente, perceber que o Ministério Público Estadual e o Ministério Público Federal, instalados na cidade, são omissos e parecem pactuar com a destruição de um patrimônio imensurável dos cidadãos capixabas e brasileiros.
Maciel de Aguiar
Escritor das barrancas do rio que o gentio chamou de Kiri-Kerê.
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