Os cães que possuem uma inteligência acima da média são aqueles que podem ser treinados e apresentam boa memória a curto prazo. Muitos podem induzir que isso está associado a ter um cérebro, no entanto, pesquisadores franceses descobriram que é o contrário, como mostram evidências publicadas na revista científica Biology Letters.
Raças de cachorros mais inteligentes tendem a ter cérebros menores, segundo os cientistas. Enquanto aquelas em que o órgão apresenta um tamanho avantajado apresentam características de medo, agressão, comportamentos de busca de atenção e ansiedade de separação.
Assim, os cães criados para trabalho, os quais apresentam grande porte e tem cérebros pequenos (comparados ao restante do corpo) como border collie, cão de montanha dos pirenéus, mastim europeu, schnauzer e retriever (todos os tipos), apresentam grande aptidão mental e boa cognição.
“Os cães exibem múltiplas personalidades, funções e habilidades cognitivas que podem superar as dos primatas não humanos. Nossos resultados mostram que habilidades complexas e comportamento cooperativo – uma característica da cognição social – não preveem maior [tamanho do cérebro] em cães”, afirmam os pesquisadores.
Enquanto cachorros de porte menor, como lulus da pomerânia, chihuahua, yorkshire terrier, shih tzu e pug, apresentam menor desenvolvimento cognitivo, de acordo com o estudo.
Ainda que pareça contraintuitivo, pois na natureza os cérebros maiores são vistos como mais desenvolvidos, a equipe explica que a reprodução excessiva destes animais por humanos, especialmente na combinação entre raças, distorceu o layout natural dos cérebros caninos.
As criações, que surgiu aproximadamente no final do século XIX, tendem a acentuar certas características e gerou as diferentes raças. Mas essa “imposição” humana está por trás desta diferença.
A pesquisa encabeçada pela equipe da Universidade de Montpellier, na França, contou com a análise de 172 raças com dados de 1.682 caixas cranianas. Os cientistas estudaram o volume endocraniano relativo (REV), ou seja, o tamanho do cérebro em relação ao corpo, dos cães.
“O REV aumenta com medo e agressão, busca de atenção e ansiedade de separação, e diminui com a treinabilidade”, concluíram.
Cães são afetados pelo estresse humano
Um dos efeitos deste cérebro perceptivo é a detecção das emoções dos tutores. Um trabalho encabeçado pela Universidade de Bristol, em Londres, descobriu que a empatia dos cães é maior do que se imaginava.
Com amostras de suor coletadas os cientistas investigaram se os cachorros sentiriam o estado emocional do humano correspondente. E a partir disso, perceberam que quando estão próximos a indivíduos estressados se tornam mais pessimistas em situações incertas, enquanto a proximidade com pessoas relaxadas não causa o mesmo efeito.
Além disso, é sugerido que o cheiro do estresse pode impactar o apetite dos cães, reduzindo sua motivação para comer. Isso poderia explicar por que cães de donos estressados exibem comportamentos diferentes.
A habilidade de identificar emoções no tutor, que geralmente é algo para além do treinamento feito com o cão, é apontado pelos pesquisadores como algo inato. Ela é uma habilidade cognitiva que provavelmente evoluiu ao longo de milênios de convivência entre cachorros e humanos.